sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pequenas Heranças Filosóficas que vale a pena registar.
 
(Concluo que precisamos de criar, com urgência, uma cátedra sobre "A Arte da Desobediência", de tal modo os sentidos e os olhares estão, mortalmente, condenados à filtragem. Ocorre-me a mensagem de Thoreau "Fui para os bosques para viver livremente, para sugar o tutano da vida, para aniquilar tudo o que não era vida, e para, quando morrer, não descobrir que não vivi". Este "Carpe diem", levado pelo professor John Keating* para um colégio elitista, onde a honra, a disciplina e a rotina eram ensinados para perpetuar um modelo de sociedade que reproduzia comportamentos inquestionáveis. Todos sabemos que o jovem que ousou enfrentar a ordem estabelecida foi punido e o professor expulso, enquanto o colégio voltava à "normalidade". Parece-me, igualmente, oportuno relembrar Voltaire e o seu conto "Le Monde comme il va". Não sei se o mundo quer ser mudado, e se a tal estátua de lama e pedras preciosas** não continuará, perpetuamente, a simbolizar a nossa triste dimensão humana, em que os túneis por onde passam toda a merda competem com algumas das preciosidades do génio humano. Não se martitirize. Plante o seu jardim.Cultive o seu olhar e deixe palpitar o seu coração. O mundo continuará a seguir o seu caminho.)
* Do Filme O Clube dos Poetas Mortos
** Voltaire escreveu em desespero com o mundo um conto tipo parábola, em que depois de pedir a Deus que lhe enviasse um anjo para fazer um relatório sobre o estado do mundo, este ao voltar ao céu apresentou uma estátua de lama em que apareciam algumas pequenas pedrinhas reluzentes. Disse a Deus- este é o mundo humano lá em baixo na terra. Perguntou Deus: Mas isso é lama. E o que são essas pedrinhas?
Respondeu o Anjo: São elas que dão consistência à estátua. Se mandares destruir o mundo, destruirás também as pequenas pedras preciosas. Assim Deus concluiu que seria melhor deixar o mundo como é, e será sempre.
Se te sentes uma das pedrinhas preciosas só tens de pensar que és tu e outros como tu que dão consistência a essa lama e corja que te rodeia, caso contrário o mundo ainda seria pior.
 
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Dívida Odiosa


Origem


A doutrina foi formalizada em 1927 num tratado de Alexander Sack, um jurista russo especializado em finanças públicas, professor de direito internacional na Universidade de São Petersburgo e, depois de 1921, em universidades da Europa e dos Estados Unidos.[1] Baseou-se em precedentes do século XIX incluindo o repúdio da dívida do México incorrida pelo regime do Imperador Maximiliano, e a recusa dos Estados Unidos da América da responsabilidade de Cuba por dívidas incorridas pelo regime colonial de Espanha.

De acordo com Sack:[2]

Quando um regime déspota contrai uma dívida, não para as necessidades ou interesses dum estado, mas em vez disso para reforço pessoal, para suprimir a inssureição popular, etc, esta dívida é odiosa para o povo e todo o estado. Esta dívida não obriga a nação; é uma dívida do regime, uma dívida pessoal contraída pelo governante, e consequentemente ela cai com o regime. A razão pela qual estas dívidas odiosas não podem ser ligadas ao território do estado reside no incumprimento de uma das condições que determina a legalidade das dívidas do Estado, nomeadamente que estas dívidas devem ser incorridas, e os dividendos usados, para satisfação das necessidades e interesses do Estado. As dívidas odiosas, contraídas e utilizadas para fins que, com o conhecimento do emprestador, são contrários aos interesses da nação, não obrigam a nação – quando sucede que o governo que as contraiu é derrubado – excepto quando a dívida está nos limites das reais vantagens que estas dívidas possam ser suportadas. Os emprestadores cometeram um acto hostil contra o povo, e não podem esperar que a nação que se libertou de um regime déspota assuma tais dívidas odiosas, que são dívidas pessoais do antigo governante.


É apenas um conceito.
Paulo Campos - 07.12.2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Amar.


Ama-se alguém pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira como os olhos piscam, pelos jeitos da boca, pela sensualidade do corpo, pela química que se troca, pela chama intensa que transborda mas também... pela amizade, pela partilha dos momentos bons e dos momentos maus, pela construção, pela responsabilidade, pelo sacrifício, pela defesa dos rebentos, pela escrita da vida e pela sabedoria. Quando tudo isso ou parte disso começa a ser destruído... simplesmente deixa de se amar! Mas a vida não pára, não acaba, nem se morre! Há que continuar a jornada. Ter força e procurar o paraíso, nem que seja no inferno! É preferivel morrer-se na procura como explorador do que como inútil, conformado e com dor.
Paulo Campos 23.11.2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Carta ao meu empregado.


Hoje percebi que há 5 anos atrás fui promovido!
Tinha tido essa impressão mas relutantemente não a queria aceitar. Agora tenho a certeza!
Fui promovido a entidade patronal.
Humm... QUE BOM.
Sim! Foi involuntário mas lá aconteceu!
Passo a explicar.
Desde essa data que muito embora nunca o tenha conhecido passei a ter um empregado e, meus amigos, considerando o valor de €485 referente ao ordenado mínimo nacional, a valores deste ano de 2012, ainda pago acima da média. Sou um tipo porreiro!
Como sou mesmo um bom patrão e lhe quero  mostrar isso mesmo, prometo aumentar-lhe o seu salário já em Janeiro de 2013.
Vou aumentá-lo em cerca de 35,5%.
Parece-me justo.
Não quero que ele se sinta mal e se vá juntar aos 156,455 de desempregados deste país.
Sinto-me bem em ser uma boa pessoa.
Tenho no entanto um problema. Talvez de importância menor, é certo!
É que, apesar das regalias e mordomias que lhe estou a dar e das outras que ainda lhe vou proporcionar,  há mais de 5 anos que não me aparece para trabalhar.
Nem sei por onde anda!
Será que me podiam ajudar e, dizer-lhe para se apresentar no posto de trabalho?

Obrigado.

 Paulo Campos, 12.10.2012

sábado, 7 de maio de 2011

O que somos?

Nós!
O que somos?
Terra?
Pó?
Qualquer coisa que passa?
Sem dúvida.
Somos quem marca a diferença ou diferença alguma.
Somos o que somos para o bem! Para o mal!
Mas podíamos ser melhores.
Podíamos marca a diferença.
Podíamos evitar o mal, a indiferença.
Podíamos criar.
Até podíamos ser felizes, sem crises, sem ganância, sem gente medíocre que julga ser grande.
Porque, no fundo, tudo se resume ao pó. À terra. E a todo o lugar
Paulo Campos, 07.05.2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Geração à Rasca - A Nossa Culpa

Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca ?
Existe mais do que uma ! Certamente !
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem ( e também estão ) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes ( actualmente entre os 30 e os 50 anos ) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes : proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre ( já lá vamos ... ), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor ; o dinheiro ia chegando para comprar ( quase ) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos ( quase ) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer " não ". É um " não " que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar !
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada ; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração ?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos !
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim ( embora estejam à rasca, como todos nós ).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja !, que chatice !, são betinhos, cromos que só estorvam os outros ( como se viu no último Prós e Contras ) e, oh, injustiça !, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente ? !!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço ?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta.
Pode ser que nada / ninguém seja assim.

Transcrição de um texto não identificado. Vale a pena ler e pensar.
Paulo Campos 06.05.2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Que valores para este novo mundo?

Quando nasci, encontrei um mundo de valores e de saberes. O nível médio cultural da grande maioria era “insuficiente”, na opinião dos que hoje têm à sua guarda o barómetro do conhecimento e a tarefa de o medir. No entanto, esses saberes importantíssimos ligados a ofício e profissões, como a agricultura, as carpintarias, as mecânicas, as pescas, a construção, e muitos outros ligados à área dos serviços, foram a pouco relegados para segundo plano. A par de um saber fazer que se ia transmitindo de geração em geração, havia a preocupação de transmitir, para além dos conhecimentos e das técnicas, a honra, o respeito pela palavra e a virtude do trabalho. Nesse mundo cada vez mais distanciado deste tempo frenético e descartável, temos vindo a desenvolver tão empenhadamente, como se disso dependesse a continuidade da espécie humana, acreditava-se no próximo, não se abandonava ninguém às portas da morte e havia estruturas sociais de apoio efectivo às famílias. Havia segurança nas ruas, as crianças podiam brincar livremente de manhã à noite, sem que se ouvisse falar em pedofilia, raptos ou outras atrocidades. De repente, tudo mudou. O nível cultural aumentou, “chovem torrentes” de formação contínua, de novas oportunidades, aumentam os graus académicos e o número de pessoas com formação superior, mas o grau de competência humana e de importância esses tais ditos valores, retrocede cada vez mais e irremediavelmente. A doutorice substitui a “burrice”, mas a incompetência expande-se por todo o lado. O grau de desenvolvimento aumentou, mas o humanismo não entra no cálculo do PIB nem do PSI20. A honra foi substituída pela esperteza – que já não é “saloia”, mas requintada. As estruturas de apoio social representam apenas mais espaços onde se pode ir buscar dinheiro, arranjar um lugarzinho numa repartiçãozinha, engordando cada vez mais os dependentes da “cunha”. A segurança das pessoas e dos seus bens é mera utopia. Finalmente, que mundo estamos nós a criar para deixarmos aos nossos vindouros? Que valores lhes deveremos transmitir, que se enquadrem com outra noção de desenvolvimento, e não com esta que nos impõem? Como poderemos abrir mão de todo um património herdado dos nosso antepassados, para nos atirarmos às cegas num abismo de um futuro inconsequente?

Paulo Campos - 24.02.2011